In Memoriam

Maria Isabel Fevereiro (1953-2021)

if 02Foi com imensa consternação que os utentes do Arquivo Histórico-Diplomático tomaram hoje conhecimento do falecimento de Maria Isabel Fevereiro, diretora do AHD entre 1992 e 2008, ano da sua aposentação como assessora principal de Biblioteca e Documentação.

A sua gratidão relativamente à dedicação, simpatia e profundo conhecimento do acervo depositado no Palácio das Necessidades está bem expressa nos inúmeros prefácios de obras que, nas últimas décadas, se foram publicando a partir de investigações que fizeram um uso significativo de documentos do AHD.
Maria Isabel Fevereiro acolhia os investigadores no seu gabinete, tomava nota dos seus pedidos de pesquisa e guiava-os com imensa paciência e competência nos meandros, por vezes intricados, de um vasto espólio que abrange uma documentação que vai de 1850 até aos nossos dias.

Estava sempre disponível para atender dúvidas dos investigadores e ajudá-los na decifração de assinaturas ou caligrafias mais ilegíveis. E não foram poucas as vezes em que o seu bom senso e savoir-faire diplomático se revelaram cruciais para a interlocução dos utentes com a Comissão de Seleção e Desclassificação do AHD.
Natural da Guarda, era licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde também foi assistente convidada por um curto período. Possuía a pós-graduação em Ciências Documentais pela mesma Faculdade, tendo depois estagiado no Arquivo Geral das Comunidades Europeias (1987-88).

O seu ingresso no serviço de biblioteca e arquivo do MNE ocorreu em 1976. Era uma casa que conhecia bem, sendo o seu pai, Nuno Bessa Lopes, um diplomata de carreira, que em 1976, a pedido do ministro Ernesto Melo Antunes, elaborou o primeiro relatório interno do MNE para uma reapreciação do caso de Aristides de Sousa Mendes, episódio contado nos livros de Rui Afonso, Injustiça. O Caso Sousa Mendes (1990) e Um Homem Bom. Aristides de Sousa Mendes. O «Wallenberg Português» (1995).

Sob a sua orientação, o AHD, debatendo-se sempre com grande parcimónia de recursos e instalações exíguas, soube acompanhar as orientações internacionais em matéria de práticas arquivísticas. Juntamente com outros investigadores e diplomatas (António José Telo, António Vasconcelos Saldanha, João de Deus Ramos), e o apoio do então presidente do Instituto Diplomático (Luís Navega), Maria Isabel Fevereiro foi ainda uma das impulsionadoras da Associação dos Amigos do AHD, tendo integrado os seus primeiros conselhos diretivos.


Pedro Aires Oliveira, Presidente do Conselho Diretivo da Associação dos Amigos Arquivo Histórico-Diplomático.

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